quarta-feira, 18 de março de 2009

Jean-Jacques Rousseau, um pensador angustiado


É que a mais de uma semana estou mergulhada nesse pensador por causa de um trabalho da faculdade. E digo, foi cansativo, mas também bem interessante. Quando falam de Rousseau no ensino médio não entram em detalhes, não falam da vida dele, de como ele era, muitas vezes nem falam direito de suas teorias. Provavelmente, porque não acham necessário tomar tempo de fórmulas e fórmulas pro vestibular. Mas mas mas...
Li, numa das pesquisas esse adjetivo para Rousseau, angustiado, e achei realmente bastante apropriado, ele teve uma vida conturbada, porém isso vocês vão poder ver no texto. Em resumo, achei que Rousseau foi um fudido no campo emocional, com perdão do vocabulário (tá, isso foi mera formalidade :P).

Aqui vai o texto da segunda parte do trabalho que falava de Rousseau propriamente. Além de mim, Luciana Garret e Madalena Rodrigues participaram da concepção do texto. Com também umas ajudas de Natália Barreto na questão da estética.
Enfim... , vou colocando em pedaços que ficou grande...

Parte 2: Rousseau

2.1 Jean-Jacques Rousseau, um pensador angustiado

Segundo filho de uma família desestruturada. O pai vindo de uma família numerosa, recebeu parca herança e consegue sustento no trabalho de relojoeiro. Além de ter personalidade despreocupada e instável, mesmo um pouco agressiva; abandona mulher com filho e só volta após apelos da esposa que, nessa época, engravida novamente. Desse relacionamento conturbado nasce o genebrino, Jean-Jacques Rousseau.

Sua mãe, Suzanne, morre uma semana após o parto. Esse fato é marcante na vida de Rousseau que, durante ela tenta preencher o espaço que a falta da mãe lhe deixou. O que pode ser observado pelo fato dele chamar a primeira amante de “mamãe” e a segunda de “titia”. Ou também quando falava dela, cheio de emoção e orgulho. Foi criado na infância por uma irmã de seu pai e por uma ama.

E foi da herança de romances que a mãe deixou que Rousseau tirou a primeira parte de sua educação. Passava horas após a ceia, lendo-os com o pai. E tal gosto tomou pela leitura que, assim que terminou tal acervo começou a ler os livros da biblioteca do avô materno (o qual era pastor), onde encontrou uma leitura mais complexa e interessou-se pela literatura romana.

Aos 10 anos, de certa forma também perdeu o pai. Issac Rousseau desentendeu-se com um cidadão de certa influência e precisou sair de Genebra para não ser injustamente preso. Por isso, Rousseau e seu irmão acabaram ficando sob a tutela de seu tio materno Gabriel Bernard, engenheiro militar, que era casado com a irmã de seu pai. Seu irmão também foge e dele nunca mais tem notícias.

Logo depois, seu tio o manda, juntamente com seu filho, para ser educado no campo, na casa de um pastor protestante em Bossey, Lá estuda latim e outras disciplinas. Mas em decorrência a alguns problemas que teve nessa casa, seu tio o tirou de lá e Rousseau passou dois ou três anos na casa do tio sem ocupação precisa. Com doze anos, arrumam-lhe um serviço de menino de recados em Genebra, mas é despedido por inércia. Depois, foi aprendiz de gravador, porém também fracassou nesse emprego. Falsificava medalhas e presenteava os amigos, foi pego e punido. Com o salário desse emprego, por um ano, leu todos os livros de uma loja de uma senhora que os alugava.

Acabou virando um adolescente sem propósito e que farreava muito com os amigos. E foi por esse motivo que, aos dezesseis anos, Rousseau ficou preso pela terceira vez do lado de fora das muralhas da cidade. Com medo da punição que receberia ele foge. Vai para uma cidade próxima a Genebra e lá entra em contato com um pároco católico que o ajuda encaminhando-o a uma jovem senhora que recebe uma pensão do rei para cuidar de jovens peregrinos.

Tratava-se de Louise-Éléonore de la Tour du Pil, pelo casamento Madame de Warens (o marido a abandonou). Louise tinha vinte e oito anos, era liberal e sem preconceitos, tinha lindos cabelos loiros e bonito corpo. O que acabou despertando um certo desejo em Rousseau, ela acaba virando uma espécie de mãe e amante. Sua vida com ela dividi-se em vários períodos, o primeiro curto, já que é mandado por ela à Turim para abjurar o protestantismo e tornar-se católico. Lá, adquire repugnância ao catolicismo. O que pode ser notado em sua obra, onde ele diz que tal religião é prejudicial, pois divide o cidadão entre dois Estados (o material e o espiritual), tirando-o de seu amor e compromisso para com sua pátria terrena e real.

Depois da abjuração, encontra trabalho na casa de uma família, entretanto acaba abandonando o emprego para viajar com um amigo. Na primavera de 1729, volta para casa de Louise, em Annecy. Ela o manda para um seminário católico para continuar com seus estudos (o instrutor de Emílio foi inspirado nos vigários do seminário). Rousseau aprende música e essa se torna uma paixão na sua vida. Após, levar um maestro da Catedral que estava doente para Paris, ele volta para encontrar Louise. Mas, ela havia viajado. Então, vai perambulando até Paris, ganhando a vida como professor de música. Nada consegue da viagem e vai procurar Louise em Chambéri, onde ela estava residindo.

É seu terceiro período morando com Louise. Essa conta-lhe sobre os amantes que teve e tem, inclusive Rousseau chega a viver um triângulo amoroso. Ela também tenta arrumar-lhe empregos que não dão certo. Esse situação de instabilidade emocional e dependência financeira causou-lhe grande desconforto e acabou por adoecer. Sua crise seria hoje reconhecida como “síndrome do pânico”, sobre tal fato ele diz: “Posso dizer perfeitamente que só comecei a viver quando me considerei um homem morto”.

Desse fato, também pode enxergar raízes de alguns de seus mais notáveis pensamentos, seu desejo e busca pela liberdade. Tal afirmação pode ser melhor esclarecida com uma passagem do livro “As grandes obras políticas” de Jean-Jacques Chevallier: “Não cessou o suscetível e infeliz Jean-Jacques, de sentir “o inconveniente da dependência” (Confissões); de sofrer com vontades particulares, arbitrárias, caprichosas, inconsequentes, daqueles de quem dependia: os seus superiores sociais. Daí, sem dúvida, essa fobia das “vontades particulares”, essa vontade de ver, antes de tudo, na liberdade, a independência em face de todas as vontades particulares.”

Em decorrência de um suposto “pólipo no coração”, ele vai até Montpelier em busca de uma cura. Não precisa nem chegar ao final de seu destino, durante a viagem envolve-se num caso amoroso e fica curado. Então, volta a Chambéri para reencontrar Louise, mas chegando lá essa já tinha outro amante. Decepcionado, em 1740, Rousseau vai embora. Segue para Lyon, onde deveria tutorar por um ano os filhos de Jean-Bonnet de Mably. Não tem sucesso na sua tarefa. Volta mais uma vez para Louise, mas decidi abandona-la definitivamente. Em 1741, segue para Paris, mas antes passa por Lyon para rever amigos e conseguir cartas de apresentação. Leva consigo um novo esquema de anotação musical que inventou e os rascunhos de uma comédia (Narcisse).

Chegando lá, consegue alunos de música e rendimentos para sobreviver. E de relacionamento em relacionamento, chega à Academia onde apresenta seu sistema de notações musicais. Mas, o sistema não foi aprovado, a Academia disse que ele não era novo nem útil. Rameau, autor de óperas, também o considera de leitura mais difícil que o comum. Mas, por causa de seus trabalhos musicais, acaba chamando a atenção de algumas pessoas. Entre elas, Denis Diderot, filósofo que teve grande influência na sua vida. Também consegue vários contatos no meio social o que resulta-lhe em alguns bons empregos. Mas, não consegue manter os cargos.

Diderot, pede pra Rousseau para desenvolver verbetes de música para seu “Dicionário enciclopédico”. Esse o faz em apenas três meses sem receber nada. Porém, consegue se envolver mais no meio intelectual.

No início de 1745, Rousseau assumiu vida conjugal com Thérèse le Vasseur (casou-se com ela apenas em 1768), com quem teve cinco filhos todos enviados para orfanatos com a justificativa que não podiam cria-los.

Em 1749, indo visitar Diderot na prisão, depara-se com o anúncio de um concurso da Academia de Dijon. A questão era se a restauração das ciências e das artes tinha tendido a purificar a moral. Animado com a possibilidade de vencer e com o incentivo de Diderot, ele participa e ganha. Seu ensaio, conhecido sob o título abreviado de “Discurso sobre as ciências e as artes” (Discours sur les sciences et les arts) defende a “volta à natureza”, fala do conflito entre as sociedades modernas e a natureza humana, ao mesmo tempo que denuncia as artes e as ciências como corruptoras do homem. Ele escreveu: “Príncipes sempre viram com prazer a difusão entre seus súditos do gosto pelas artes e por supérfluos que não resultem em dispêndio de dinheiro. Portanto, além de facilitar essa insignificância espiritual tão apropriada a escravidão, eles sabem bem que as necessidades que o povo cria para ele mesmo são como cadeias que o une... As ciências, as letras, e as artes...atam flores ao redor das cadeias de ferro que o liga (o povo), sufoca nele o sentimento daquela liberdade original para a qual ele parece ter nascido, faz ele amar sua escravidão, e o transforma no que é chamado "povo civilizado". Com essa obra fica famoso.

Acabou por adoecer e refugiar-se próximo a Paris. Aumenta seu circulo social, desenvolve uma peça Le Devin du Village que obtem relativo sucesso e é chamado para conhecer o rei Luís XV, mas não comparece e é criticado por isso, inclusive por Diderot. Para justificar sua contradição no desenvolvimento nas artes que ele anteriormente criticara, ele diz que estava servindo um antídoto ao veneno, direcionando armas de corrupção contra a própria corrupção. Uma das consequências da fama adquirida com essas obras é o afastamento de alguns amigos que não sentiam-se confortáveis por não poder competir com ele no campo das artes.

Em 1753, participa de outro concurso da Academia de Dijon, porém não vence. Mesmo assim, é seu segundo escrito sensacional e assegura sua fama. O ensaio que se intitulava “Discurso sobre a desigualdade entre os homens” defende que o homem era bom no estado de natureza (que nunca existiu de fato) e que a sociedade o corrompeu. Foi um precursor do Romantismo. E também abordou assuntos como ecologia, superpopulação e críticas ao absolutismo francês(tipo de governo da época na qual viveu). A lei deve ser igual para todos, e ninguém deve se por acima dela (não aceita o argumento dos reis por “direito divino” que detem todos os poderes em si, não existe um líder “natural”).

Convidado por um amigo, vai à Genebra com Thérèse e pensa em lá residir. Mas, em decorrência da má aceitação do “Discurso sobre a desigualdade entre os homens” naquela cidade, ele fica desmotivado e desisti de voltar. Também o incentivam a não voltar para Genebra o fato de ir para lá residir Voltaire (ele parece não querer dividir os louvores) e um convite de uma amiga para morar numa casinha perto de Paris. Lá, dedica-se as suas duas grandes obras, “O Emílio” e “Do contrato social”.

Em 1757, começa a escrever um romance picante intitulado Julie, no qual insere no personagem principal características de seus principais amores. Durante sua concepção, Rousseau apaixonasse por uma nobre local, mas nada passa de uma declaração de amor de sua parte. Mas, esse amor platônico encaminhou essa sua nova obra para outro direcionamento e também rendeu-lhe uma nova onda de chacotas por parte dos amigos. Juntando-se a esse último fato mais um triste desentendimento de Rousseau com os enciclopedistas, em 1758, ele rompe com esses e com Diderot. Muda-se com Thérèse em dezembro para Montiouis e lá termina seu livro, agora, La Nouvelle Heloise que foi publicada em 1761.

Por essa época, Rousseau apresentou alguns problemas de saúde, mas o médico disse que esse ainda viveria muito. Mais aliviado ele trabalha nas suas obras “Émile” e “Do contrato social”. Na obra citada primeiramente, Rousseau ensina aos pais como educarem seus filhos de maneira mais proveitosa (muitos dizem que isso é uma tentativa do autor de se redimir por ter abandonado os próprios filhos). Ele defendia que nos primeiros anos, a criança deveria ser levada para um campo, longe das influências da cidade grande, e lá apenas estar em contato com seu mestre que deveria orienta-lo no sentindo de fazer nele despertar uma iniciativa para aprender as coisas. Só, na puberdade que ele iria para cidade grande e entraria de fatos nos estudos. Tal educação tinha por objetivo desenvolver o EU natural do aluno.

Em 1761, além da publicação de Julie, Rousseau também lança La Paix Perpètuelle, e tal escrito tem como resposta uma carta cheia de zombarias de autoria de Voltaire. Em 1762, são publicados suas mais importantes obras, “Émile” e “Do contrato social”. E em junho do mesmo ano, as mesmas obras são condenadas pelo Parlamento de Paris como contrários ao governo e à religião. Avisado com antecedência por uma amiga que seria preso, ele foge e acaba por refugiar-se em Yverdum. Mas o Senado de tal região também pretendia prende-lo, então foge novamente e vai residir em Motiers, sob a proteção do rei Frederico da Prússia.

Ressentido, em 1763, renuncia à cidadania de Genebra. No mesmo ano, o Arcebispo de Paris expede um mandado contra ele, em contrapartida muitas pessoas vão ao seu encontro para escuta-lo. Já no final de 1764, Voltaire escreve um panfleto (O sentimento dos cidadãos) acusando-o de hipócrita, pai desnatura e amigo ingrato. Tal acontecimento abala muito Rousseau que começa a escrever suas Confissões. Para completar a onda de críticas, os pastores rebelavam os camponeses contra ele, na rua foi vaiado e levou pedradas.

Para tirá-lo de complicada situação, uma amiga lhe fala de um amigo inglês, David Hume, o qual tinha em Rousseau grande prestigio e queria que o pensador para Inglaterra mudasse. Rousseau foi para lá com Thérèse, onde Hume arrumou-lhe uma agradável caso no campo e o patrocinou. Mas, seu relacionamento com Hume foi abalado por um desagradável engano (engano causado pela mania de perseguição de Rousseau) que, mesmo sendo esclarecido mais tarde, estremeceu a relação que não pode voltar a ser como anteriormente. Em maio de 1767, Rousseau segue para a França.

Lá trocou seu nome por um falso e escondeu-se na casa de amigos. Terminou seu Dictionnaire de musique e esse foi publicado. Depois, sai para Bourgoin e prossegue até Monquin. Nesse período, escreve Confissões.Confissões em público, o que causa certa polêmica. Em 1771, ocupa-se de uma estudo sobre a Polônia que foi-lhe pedido. Volta a Paris para defender-se, mas não é mais perseguido. Toma por hábito ler trechos de suas

Ainda buscando ser aceito pela sociedade, escreve um livro de diálogos com ele mesmo. Tenta colocar esse trabalho sobre proteção de Deus, porém não consegue. E, por isso, ele acha que até Deus está contra ele, perseguindo-o. Por sorte, nos dois últimos anos de sua vida, seu estado mental foi mais tranqüilo. Rousseau nessa época viveu uma vida reclusa com Thérèse, recebendo alguns jovens visitantes. Em maio de 1768, muda-se para Ermenonville, onde morreu por motivos de doença em 2 de julho. Foi enterrado perto de um lago da cidade, mas durante a Revolução Francesa seus restos mortais foram transferidos para o Panteon em Paris. Os pensamentos desse jusnaturalista ainda são observados e discutidos.

Nesse trecho, pode se observar uma breve opinião de Rubem Queiroz Cobra, Doutor em Geologia e bacharel em Filosofia, acerca do pensador: “Rousseau não pretendia que o homem retornasse à primitiva igualdade, ao estado natural, mas, em um artigo encomendado por Diderot para a "Enciclopédia" e publicado separadamente em 1755 como Le Citoyen: Ou Discours sur l'economie politique, ele busca meios de minimizar as injustiças que resultam da desigualdade social. Ele recomendou três caminhos: primeiro, igualdade de direitos e deveres políticos, ou o respeito por uma "vontade geral" de acordo com o qual a vontade particular dos ricos não desrespeita a liberdade ou a vida de ninguém; segundo, educação pública para todas as crianças baseada na devoção pela pátria e em austeridade moral de acordo com o modelo da antiga Sparta; terceiro, um sistema econômico e financeiro combinando os recursos da propriedade pública com taxas sobre as heranças e o fausto.”

Na homenagem ao aniversário do 250º ano da do nascimento de Rousseau, Levi Strauss, que é um grande admirador de Rousseau, lembra que o gênio de Rousseau atuou na literatura, poesia, história, moral, política, pedagogia, música e botânica. Diz que Rousseau fundou a etnologia e foi um agente de transformação.


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Nota pessoal: Tenho muita raiva, mágoa e dor dentro de mim. E me salvo observando os detalhes.




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